quarta-feira, 14 de abril de 2010

Àurea RS

História  que provém o nome desta Cidade
Por que a Lei Áurea não representou a abolição definitiva?


O fim da escravidão legal no Brasil não foi acompanhado de políticas públicas e mudanças estruturais para a inclusão dos trabalhadores. Por isso, os escravos modernos são herdeiros dos que foram libertados em 13 de maio de 1888



Por Leonardo Sakamoto*



Em 2008, comemora-se os 120 anos da Lei Áurea, quando o Estado brasileiro passou a considerar ilegal o direito de propriedade de um ser humano sobre outro. Contudo, o ato da princesa Isabel não foi a causa do fim do regime escravista no país, mas o final (postergado, ao máximo) de um processo que começou com a proibição do tráfico negreiro entre a África e o Brasil. E contou com a instituição de garantias prévias para que os proprietários rurais tivessem mão-de-obra farta e à disposição mesmo após a assinatura que condenou o trabalho escravo à ilegalidade. Para entender esse processo, portanto, é necessário voltar no tempo e recoorrer aos acontecimentos do início do século 19. Não apenas àqueles decorrentes da mudança da família real para o Brasil, mas também à expansão da Inglaterra industrial pelo mundo.





Marcas no corpo de trabalhador torturado com ferro quente no Pará (Foto: SRTE-PA / Divulgação)



Com a invasão das tropas napoleônicas, a Coroa portuguesa dependia dos ingleses para retomar o seu país e garantir sua própria segurança no Rio de Janeiro, além da proteção de suas colônias. Não é de se estranhar, portanto, que a Inglaterra, interessada em tornar o Brasil e as colônias espanholas do Prata e do Pacífico mercados para seus produtos manufaturados e fontes baratas de matérias-primas, pressionasse por melhores condições comerciais. O Tratado de Navegação e Comércio, assinado em 1810, dois anos após a abertura dos portos às nações estrangeiras, foi instituído nesse sentido. Por um tempo, os ingleses passaram a usufruir de uma taxa de importação (15%) menor que a própria taxa imposta aos produtos portugueses (16%).



Junto com esse acordo foi assinado outro entre as duas coroas. Pelo Tratado de Aliança e Amizade, Portugal se comprometia a limitar o tráfico de escravos entre suas colônias. A bem da verdade, isso não causou grande impacto na economia brasileira, pois o comércio português de escravos já estava restrito aos seus próprios domínios na África. Mas foi um dos primeiros indícios do que viria a ser o comportamento inglês nas décadas seguintes. Prova disso é que, no Congresso de Viena, cinco anos mais tarde, pressionado pelos ingleses, Portugal concordou em proibir o tráfico de seres humanos em regiões acima da linha do Equador. O que colocava de fora desse sistema comercial um dos principais fornecedores de mão-de-obra para o Brasil, a Costa da Mina, na África Ocidental. O acordo veio ganhar "força de lei" após a inclusão das canhoneiras ao papel assinado, por meio de uma cláusula adicional, inserida anos mais tarde, que dava à Inglaterra o direito de abordar em alto-mar embarcações suspeitas de transportar cativos e de apreendê-las.







Fortaleza de São Jorge da Mina, em Gana: ponto de partida de escravos (foto: Dave Ley/Wikipedia)



A despeito dos acordos internacionais, tanto a Coroa portuguesa quanto o governo imperial brasileiro que a sucedeu não tornaram efetivas essas promessas para encerrar o tráfico. A Inglaterra, que teve um papel de mediação no processo de independência do Brasil, continuou pressionando a nova administração por medidas duras para acabar com o tráfico negreiro. Exigiu em um tratado de 1826, ratificado em 1827, que o país proibisse o comércio humano em três anos. Em 1831, o Brasil realmente promulgou a lei que proibiu o tráfico de pessoas da África e declarou livre os cativos que desembarcassem nos portos do país após aquela data. É claro que a lei permaneceu como letra-morta em função do fortalecimento da influência dos proprietários rurais após a abdicação do imperador Pedro I no mesmo ano.



Pois, como afirmou Caio Prado Júnior, a escravidão constituía a mola mestra da vida no país, repousando sobre ela todas as atividades econômicas. A produção nacional, voltada para atender às necessidades de gêneros alimentícios (como o café) e matérias-primas para uma Europa em plena marcha industrial, dependia do trabalho servil. Em decorrência disso, por mais que houvesse um crescente descontentamento da opinião pública esclarecida com o trabalho escravo, era enérgica a defesa de sua manutenção pelo setor produtivo. Afinal de contas, não havia no horizonte visível uma opção (que não desmontasse o sistema) para substituir esse tipo de mão-de-obra. E a importação era a única forma de suprir o aumento da demanda por força de trabalho e mesmo sua reposição, haja vista que a reprodução da mão-de-obra escrava em cativeiro era insignificante.



Na sociedade escravista, o trabalhador não possuía a propriedade de sua força de trabalho. Não tinha liberdade para vendê-la a quem garantisse melhores remuneração ou condições de subsistência, estando atado a uma pessoa ou empresa pelo tempo de sua vida. Era mercadoria. E, por ser mercadoria, também era patrimônio. A riqueza de um homem era comumente medida pela quantidade de escravos que possuía. Mas um patrimônio com natureza diferente, comprado pelo fazendeiro em um mercado de força de trabalho, do qual aquele acaba por ser dependente e refém.







Mercado da Rua do Valongo, no Rio de Janeiro, onde escravos eram vendidos (quadro de J.B. Debret)



O escravo-mercadoria se tornava objeto de lucro pelo comércio internacional antes mesmo de começar a produzir. Ao investir determinada soma de dinheiro na compra de força de trabalho, um fazendeiro tinha em mente que ele teria que buscar um retorno equivalente ou superior à quantidade de recursos necessários para a manutenção da mão-de-obra somada aos recursos que ele investiu em sua compra mais a taxa de juros que ele ganharia caso investisse o mesmo valor no mercado. Caso contrário, o negócio não valeria a pena.



Na primeira metade do século 19 já era possível prever que o fim da escravidão era apenas uma questão de tempo no Brasil. Tanto as pressões externas quanto internas apontavam para uma mudança no tipo da força de trabalho utilizada na produção, o que, sem dúvida nenhuma, era condição fundamental para o desenvolvimento econômico e social do país. A dúvida seria como e quando essa mudança aconteceria e a qual custo - toda alteração no curso de um sistema tem um custo, que é ponderado no momento de tomar decisões de adoção de políticas por gestores. Um fator interno que contribuiu para que esse balanço de fatores pendesse para o fim do tráfico foi a situação exposta acima pelo sociólogo José de Souza Martins. Os comerciantes de escravos haviam se tornado proeminentes figuras financeiras, tendo os proprietários rurais do país como seus devedores. A sujeição econômica a essa classe, que já não gozava de boa reputação e imagem pela sociedade, trazia insatisfação aos produtores.



Vale lembrar que, externamente, o país já enfrentava problemas com a abordagem internacional de seus navios, sendo eles transportadores de escravos ou não. A justificativa de impedir o tráfico era usada mesmo quando as embarcações estavam de acordo com o acordos ingleses. Em 1845, o parlamento inglês aprovou o Bill Aberdeen, declarando legal o aprisionamento de qualquer embarcação utilizada no tráfico e a sujeição de seus ocupantes ao julgamento por pirataria. Os navios eram caçados não apenas em alto mar, mas também em águas abrigadas do Brasil e nos seus portos.



Em 1850, o governo brasileiro finalmente adota ações eficazes para coibir o tráfico transatlântico de escravos, com a adoção de leis e ações. Os resultados puderam ser sentidos rapidamente: em 1849, 54 mil escravos entraram no país. O número caiu para 23 mil em 1850, 3 mil em 1851, pouco mais de 700 em 1852, para acabar então definitivamente.



Nos anos seguintes, foram tomadas medidas que libertaram crianças e sexagenários. O que, na verdade, serviu apenas como distrações para postergar o fim da escravidão. Os escravos que conseguiam chegar aos 60 anos já não tinham condições de trabalho e eram um "estorvo" financeiro para muitos fazendeiros que os sustentavam. Já os filhos dos escravos não possuíam autonomia para viver sozinhos. Muitos, até completarem 18 anos, foram tutelados (e explorados) pelos proprietários de seus pais. Além disso, uma corrente de tráfico interno vendia escravos do Nordeste para suprir a crescente produção de café no Sudeste.







Quadros do pintor J. B. Debret retratam a vida dos trabalhadores escravos no Brasil antes de 1888



Mas, por mais que fosse postergada, com o fim do tráfico transatlântico, a propriedade legal sob seres humanos estava com os dias contados. Em questão de anos, centenas de milhares de pessoas estariam livres para ocupar terras virgens - que o país tinha de sobra - e produzir para si próprios em um sistema possivelmente de campesinato. Quem trabalharia para as fazendas? Como garantir mão-de-obra após a abolição total?



Vislumbrando que, mantida a estrutura fundiária do país, o final da escravidão poderia representar um colapso dos grandes produtores rurais, o governo brasileiro criou meios para garantir que poucos mantivessem acesso aos meios de produção. A Lei de Terras foi aprovada poucas semanas após a extinção do tráfico de escravos, em 1850, e criou mecanismos para a regularização fundiária. As terras devolutas passaram para as mãos do Estado, que passaria a vendê-las e não doá-las como era feito até então.



O custo da terra começou a existir, mas não era significativo para os então fazendeiros, que dispunham de capital para a ampliação de seus domínios - ainda mais com os excedentes que deixaram de ser invertidos com o fim do tráfico. Porém, era o suficiente para deixar ex-escravos e pobres de fora do processo legal. Da mesma forma, a lei proibia que imigrantes que tiveram suas passagens financiadas para vir ao Brasil (ato comum na política de imigração) comprassem terras até três anos após a sua chegada. Ou seja, mantinha a força de trabalho à disposição do serviço do capital.



Os preceitos da lei não foram necessariamente respeitados, principalmente por quem possuía recursos para isso. Afinal, ela não havia sido criada para impor ao capitalismo brasileiro um problema, mas sim garantir o seu florescimento. De acordo com Emília Viotti da Costa, os ocupantes de terras e os possuidores de títulos de sesmarias ficaram sujeitos à legitimação de seus direitos, o que foi feito em 1854 através do "registro paroquial". O documento validava a ocupação da terra até essa data. Com isso nasceu uma indústria da falsificação de títulos de propriedades, com a participação de cartórios. Familiar aos proprietários de terra, os procedimentos para isso eram inatingíveis ao ex-escravo ou ao imigrante, por desconhecimento ou falta de recursos financeiros para subornar alguém.



Com o trabalho cativo, a terra poderia estar à disposição para livre ocupação. Porém, com o trabalho livre, o acesso à terra precisava ser restringido. A existência de terras livres garante produtores independentes e dificulta a centralização do capital e da produção baseada na exploração do trabalho. Com o fim do tráfico e o livre mercado de trabalho despontando no horizonte, o governo brasileiro foi obrigado a tomar medidas para impedir o acesso à terra, mantendo a mão-de-obra reprimida e alijada de seus meios de produção.



Dessa maneira, a Lei de Terras, nascida do fim do tráfico de escravos, está na origem da atual exploração do trabalhador rural e, portanto, da escravidão contemporânea. As legislações que se sucederam a ela e trataram do assunto apenas reafirmaram medidas para garantir a existência de um contingente reserva de mão-de-obra sem acesso à terra, mantendo baixo o nível de remuneração e de condições de trabalho. Com a Lei de 1850 estava formatada uma nova estrutura - em substituição àquela que seria extinta em maio de 1888 - para sujeitar os trabalhadores.



Porém, ela também resolveu outro problema crucial: ao dificultar o acesso e legalizar a posse, criou valor para algo que até então não o possuía - a terra. Como não era um objeto passível de ser comercializado, a fazenda consistia, em um primeiro momento, no locus onde ocorria a exploração e, dali em diante, no trabalho acumulado dos escravos - traduzido em mercadorias e benfeitorias. Martins explica que a lei possibilitou, dessa forma, a transferência da garantia dada ao mercado de crédito da propriedade dos escravos para a propriedade da terra. Esse momento é decisivo. O trabalho, liberto da condição de renda capitalizada, deixa de fazer parte do capital para se contrapor a ele. Não era mais preciso comprar a capacidade de gerar riqueza: com o fim do direito à propriedade privada sobre seres humanos, o capital também ganha a liberdade. Com a diferença de que poderia usufruí-la melhor do que os antigos escravos.



No dia 13 de maio de 1888, com a Lei Áurea, o Estado deixou de reconhecer o direito de propriedade de uma pessoa sobre outra. Contudo, isso não significou que todas as relações de trabalho nas sociedades regidas pelo capital passariam a ser guiadas por regras de compra e venda da força de trabalho mediante assalariamento, com remuneração suficiente para a manutenção do trabalhador e de sua família. O fim da escravidão não representou a melhoria na qualidade de vida de muitos trabalhadores rurais, uma vez que o desenvolvimento de um número considerável de fazendas continuou a se alimentar de formas de exploração semelhantes ao período da escravidão. Não apenas no momento da acumulação primitiva originária - historicamente realizada através de recursos naturais e da força de trabalho - mas ao longo do tempo, como forma de garantir uma margem de lucro maior ao empreendimento ou mesmo lhe dar competitividade para a concorrência no mercado.



Dois casos de utilização de formas de exploração semelhantes ao trabalho escravo, mas que não envolvem propriedade legal de um ser humano sobre outro, tornaram-se referência no pós-Lei Áurea. O primeiro é o dos nordestinos levados a trabalhar na florescente indústria da borracha na Amazônia. O segundo o dos colonos estrangeiros trazidos para as fazendas de café do interior do Estado de São Paulo. Pela descrição da situação, é possível constatar que há um padrão na forma de exploração desses trabalhadores, que continua praticamente o mesmo nos dias de hoje - a servidão por endividamento ilegal. Como esse padrão se repetia em diversos países, ele foi objetivo de discussões internacionais e definido em convenções da Organização Internacional do Trabalho.



Após 1850, as exportações de borracha cresceram no Brasil devido ao aumento na demanda internacional pelo produto após o desenvolvimento do processo de vulcanização, que aumentou a sua resistência e ampliou as possibilidades de moldagem. Entre 1881 e 1890, representava 8% do total de exportações do país e ocupava o terceiro lugar entre os produtos mais vendidos. Vinte anos depois (1901-1910), a borracha passou a 28% do total de exportações. Isso levou o luxo à região amazônica, onde estavam concentrados os seringais - riqueza esta extraída do trabalho de migrantes nordestinos, muitos deles fugidos da seca que atingiu o Nordeste entre 1877 e 1880. O relato de Caio Prado Júnior vale para aquela época, mas descreve esse padrão que continua até os dias de hoje:



"As dívidas começam logo ao ser contratado: ele adquire a crédito os instrumentos que utilizará, e que embora muito rudimentares, estão acima de suas posses em regra nulas. Freqüentemente estará ainda devendo as despesas de passagem desde sua terra nativa até o seringal. Estas dívidas iniciais nunca se saldarão porque sempre haverá meios de fazer as despesas do trabalhadores ultrapassarem seus magros salários. E quando isto ainda não basta, um hábil jogo de contas que a ignorância do seringueiro analfabeto não pode perceber, completará a manobra. Enquanto deve, o trabalhador não pode abandonar o seu patrão credor; existe entre os proprietários um compromisso sagrado de não aceitarem a seu serviço empregados com dívidas para com outro e não saldadas". E utilizava-se a força para manter o trabalhador no serviço.



Com o final do tráfico negreiro, deu-se o início da implantação de regimes de parceria em várias fazendas de café, trazendo colonos europeus para o serviço. Vale lembrar que a escravidão não era apenas um modo de produção. Ela estava historicamente enraizada em toda sociedade, que girava em torno dela. Portanto, era claro que a relação fazendeiro/escravo demoraria a ser substituída pela patrão/empregado tanto ideologicamente quanto na prática - ou talvez que nunca venha a se realizar plenamente. Um exemplo citado por José de Souza Martins é o da firma Vergueiro & Cia, que contratou imigrantes para executar o serviço:



"Na parceria, conforme o contrato assinado com os colonos suíços, "vendido o café por Vergueiro & Cia pertencerá a estes a metade do seu produto líquido, e a outra metade ao (...) colono. Entretanto, o parceiro era onerado em várias despesas, a principal das quais era o pagamento do transporte e gastos de viagem dele e de toda a sua família, além da sua manutenção até os primeiros resultados do seu trabalho. Diversos procedimentos agravavam os débitos, como a manipulação das taxas cambiais, juros sobre adiantamentos, preços excessivos cobrados no armazém (em comparação com os preços das cidades próximas), além de vários abusos e restrições que, no caso da [fazenda] Ibicaba, logo levaram a uma rebelião. Esses recursos protelavam a remissão dos débitos dos colonos, protelando a servidão virtual em que se encontravam".



O colono não entrava no mercado de trabalho livre para vender sua força. E se estivesse insatisfeito com o patrão, teria que procurar outro que comprasse suas dívidas. Perante a lei, estavam livres, contudo, economicamente, eram similares a escravos. A experiência da Vergueiro & Cia gerou insatisfação por parte dos colonos, temor por parte dos fazendeiros que receavam que insurreições como a ocorrida nessa fazenda em 1856 se repetissem e mesmo desconfiança de outros países fornecedores de mão-de-obra. Situações como essa se repetiram ao longo de décadas até que a prática da imigração para o colonato estabelecesse um modus operandi que contou com a participação do governo. Este passou a subvencionar o transporte dos estrangeiros de seu país de origem até o Brasil, diminuindo os problemas com o endividamento. Os colonos esperavam obter no trabalho das fazendas de café recursos suficientes para adquirirem sua própria terra. O colonato passou a ser visto, e incentivado, como uma etapa necessária para independência econômica.



A exploração degradante e ilegal do trabalho continuou. Ao analisar a situação do colonato do café entre o final do século 19 e início do século 20 no Brasil, Martins afirmou que a propriedade capitalista da terra assegurava ao fazendeiro a sujeição do trabalho e, ao mesmo tempo, a exploração ilegal de seres humanos.



Apesar de trabalharem para a fazenda, os colonos atuavam como arrendatários, ficando cada grupo com um pedaço da fazenda, cuidando do cafezal e entregando o produto para o proprietário da terra. Para isso, eram remunerados abaixo do valor do seu serviço e de forma insuficiente para garantir sua subsistência, tendo que utilizar as terras entre os cafezais ou próximas deles para produzir seus alimentos. O trabalho absorvido na formação da fazenda de café era convertido em capital na forma de cafezais. Dessa forma, ela produzia a partir de relações não-capitalistas de produção boa parte de seu capital.





Grupo de trabalhadores resgatados na fazenda Peruano, em Eldorado dos Carajás (PA) (Foto: Leonardo Sakamoto)

Durante todo o século 20, a servidão por dívida utilizada contra os seringueiros e os primeiros imigrantes do café consolidou-se como uma das formas empregadas para reprimir a força de trabalho nas situações de expansão do capital sobre formas não-capitalistas de produção. Não há estimativas confiáveis do número de escravos no país hoje. Alguns levantamentos falam de 25 mil, outros de 40 mil. O fato é que de 1995 até hoje, mais de 30 mil pessoas já foram libertadas em operações dos grupos móveis de fiscalização do governo federal, responsáveis por apurar denúncias e libertar trabalhadores.



Para além dos efeitos da Lei Áurea que completa 120 anos, trabalhadores rurais do Brasil ainda vivem atualmente sob a ameaça do cativeiro. Mudaram-se os rótulos, ficaram as garrafas. Marx afirmava que o "morto apodera-se do vivo". Com base na permanência da escravidão sob outras formas, constata-se que não são apenas as velhas formas que se inserem nas novas, mas as novas recorrem às velhas sempre que possível.



*coordenador da ONG Repórter Brasil, é jornalista e doutor em Ciência Política pela Universidade de São Paulo.



Para saber mais:

- História do Brasil, de Bóris Fausto

- História econômica do Brasil, de Caio Prado Júnior

- Política de terras no Brasil e nos Estados Unidos, de Emília Viotti da Costa,

- Capitalismo e Escravidão no Brasil Meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul, de Fernando Henrique Cardoso

- O cativeiro da terra, de José de Souza Martins

- A questão agrária e o capitalismo, de Samir Amin e Kostas Vergopoulos




                                                          

Aparecida do Norte

Aparecida do NorteLocalizada no Vale do Paraíba, leste do Estado de São Paulo, a cidade de Aparecida do Norte atrai milhões de peregrinos de todas as partes do país durante o ano. Mas é no dia 12 de outubro que a cidade é especialmente visitada por devotos de Nossa Senhora Aparecida. Somente nesse dia, mais de 200 mil romeiros vão até lá para participar de uma das missas celebradas na Catedral-Basílica de Nossa Senhora Aparecida, conhecida como "Basílica Nova", e na Basílica Nacional de Aparecida, conhecida como “Basílica Velha”. Durante todo o ano a cidade chega a receber sete milhões de pessoas. O turismo e as atividades econômicas do município giram em torno da religiosidade celebrada ali, onde existem mais de 50 indústrias voltadas para o comércio religioso, movimentado pela fé. A cultura também é marcante na cidade. Durante todo o dia 12 de outubro são realizadas peças teatrais, exposições e cursos de artesanato. A cidade e as igrejas têm completa infra-estrutura para atender quem chega ali. No Santuário Nacional de Nossa Senhora os romeiros contam com ambulatório médico, bazar, sala de batizados, capela da penitência, salão para as refeições, berçário, estacionamento, exposição, museu, sala das promessas e centro de apoio ao romeiro, onde o comércio religioso é bastante diversificado. Além das duas igrejas principais, Aparecida do Norte tem mais nove igrejas que atendem à população local. Na cidade existe também um parque temático, com brinquedos, atividades religiosas e culturais.


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Informação básicaClima

Seco e quente, com temperatura média de 28 °C.EventosFesta de Nossa Senhora Aparecida

A Festa de Nossa Senhora Aparecida é realizada entre os dias 3 e 12 de outubro, com uma novena festiva na Basílica Nova. A festa atrai turistas de toda a região do Vale do Paraíba, do Brasil e também do mundo. Às 18h do dia 12, uma procissão segue da Basílica Velha e percorre as ruas da cidade até o Santuário Nacional. No final da caminhada são realizados shows musicais no Pátio das Palmeiras.Dados da cidadeAparecida do Norte

Estado: São Paulo

Região: Sudeste

População: 35.754 habitantes

DDD: (12)



Distâncias

São José dos Campos: 81 km

Pouso Alegre/MG: 151 km

Ubatuba: 163 km

Rio de Janeiro: 261 kmHospedagem / RestaurantesPor ser um centro de concentração muito grande de pessoas durante todo o ano e, especialmente nos meses em que são comemorados o dia da Padroeira e a semana santa, a cidade de Aparecida tem várias opções de hospedagens para os romeiros e visitantes.

Os restaurantes da cidade também são bastante diversificados e oferecem desde refeições rápidas para quem vai à cidade participar das festividades santas a pratos mais sofisticados.

Para saber mais sobre os estabelecimentos locais, visite:

http://www.cidadeaparecida.com.br/aparecida/enderecos/hoteis.htm

http://www.brasilviagem.com/hoteis/?CodCid=146

http://www.dynaflash.com.br/pousadas/sudeste/aparecida-do-norte.shtmlComo chegarVia Rodoviária: Saindo de São Paulo o percurso tem 207km e deve ser feito pela BR 116 (rodovia Presidente Dutra). Essa rodovia passa pelas cidades de Itaquaquecetuba, Guararema, São José dos Campos e Taubaté.ServiçosCentro de Apoio ao Romeiro: +55 (12) 3105-1806

Santa Casa: +55 (12) 3105-2155

Agências Bancárias: Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Banco 24h, Banco Real, Banespa, HSBC e Nossa CaixaLinks relacionadoshttp://www.aparecida.sp.gov.br/ http://www.saopaulo.sp.gov.br/saopaulo/turismo/interior.htm http://www.aparecida.com.br/ AtraçõesSantuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida (Basílica Nova)

Construído a partir de 1955 esse novo templo é o maior de Aparecida e foi projetado com o objetivo de receber o número crescente de romeiros que visitam a cidade. Essa igreja foi consagrada pelo Papa João Paulo II em 1980 e, quatro anos mais tarde, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil declarou oficialmente a basílica de Aparecida como o Santuário Nacional. Construído em estilo neo-romântico, o templo tem quatro naves, formando uma cruz. É lá que fica a Santa Nossa Senhora, em um nicho de mármore e ouro, denominando o altar-mor. A Basílica tem paredes de tijolos aparentes e capacidade para 45 mil pessoas.



Matriz Basílica de Nossa Senhora Aparecida (Basílica Velha)

Conhecida como Basílica Velha, a Matriz Basílica de Nossa Senhora Aparecida é ligada à Matriz Velha por uma passarela de 500 metros. Seu estilo barroco é marcado por duas torres e sinos. Os degraus de pedra da entrada do templo estão gastos e marcados pelos pés de milhões de fiéis que visitam o lugar todos os anos. O templo já passou por reformas e ampliações que estão sendo registradas nas diversas datas cravadas em suas imponentes paredes externas. No interior da Igreja o altar-mor e o retábulo foram esculpidos em mármore de Carrara, na Itália. Os púlpitos e as talhas ornamentadas foram esculpidos em cedro.



Capela da Velas

A Capela das Velas fica na Basílica Velha. A quantidade de pontos luminosos forma um espetáculo, que emociona quem chega ali. São velas de todos os tamanhos e formatos, que representam os pedidos e os agradecimentos dos fiéis.



Sala dos Milagres

A sala dos Milagres e das Promessas fica no subsolo da Basílica Nova e é um dos locais mais visitados do Santuário Nacional. O ambiente foi criado para receber e expor as peças entregues pelos fiéis, como as fotografias, que cobrem completamente as paredes da sala.



Passarela da Fé

A Passarela da Fé foi inaugurada em 1972 para ligar a Basílica Velha à Basílica Nova. A construção em forma de “S” é uma homenagem à Santa Nossa Senhora da Conceição Aparecida. A passarela é destino certo para quem visita a cidade, especialmente aos domingos, quando, no horário das missas, a calçada fica repleta de visitantes. A passarela da Fé tem 500m de quê extensão. Na parte mais alta da Passarela é possível ter uma visão panorâmica da cidade.



Centro Histórico

Uma das partes mais movimentadas de Aparecida, o Centro Histórico é o pólo turístico-cultural e de lazer da cidade. Localizado em volta da Basílica Velha, o lugar abriga bares, restaurantes, lojas, hotéis e o um shopping aberto.



Igreja de São Benedito

Os anjos esculpidos nas portas e beirais do templo são os maiores e mais belos destaques da Igreja de São Benedito, inaugurada em 1924. A simplicidade de sua única torre demonstra a singeleza da construção.



Morro Do Cruzeiro

O Morro do Cruzeiro é o lugar escolhido todos os anos para a encenação da Via Sacra, nas sextas-feiras de Quaresma. O local foi totalmente reformado para receber os milhares de visitantes que passam por ali. No Morro do Cruzeiro foram construídas, em bronze e estilo neoclássico, as 14 estações da Via Sacra.



Aquário de Aparecida

Quem gosta de natureza não pode deixar de visitar o aquário de Aparecida. São diversos tanques com espécies de animais de águas doce e salgada. Em uma piscina montada no aquário, é possível tocar em tubarões, estrelas do mar e ouriços. No local, são realizados projetos de educação ambiental em parceira com as escolas da cidade.



Relógio das Flores

Com espécies de plantas de todas as regiões do Brasil, o colorido relógio das flores de Aparecida foi o primeiro a ser plantado no Vale do Paraíba, em 2003. Ele fica na Praça Victor Coelho de Almeida, onde estão mais de quatro mil mudas de flores.



Porto Itaguaçu

O Porto Itaguaçu, localizado no antigo bairro das Pedras, é o ponto do rio Paraíba onde foi encontrada por três pescadores a imagem da Santa Nossa Senhora Aparecida. Depois de uma reforma, em 1997, o porto foi transformado em ponto turístico, onde existe o monumento “Os Três Pescadores”, do artista Chico Santeiro. Para chegar até o Porto, onde existe também uma bela capela, o visitante pode optar por passeio de charrete ou balsa, seguindo pelo rio Paraíba.


                                                          

Angelina Santa Catarina

A História de Angelina começou em 1858, com a chegada dos primeiros imigrantes alemães, vindos das colônias vizinhas de Sacramento e de São Pedro de Alcântara, que batizaram o lugar o nome de Vila Mundéus (armadilha rudimentar de caça usada na época).


Em 1891, tornou-se distrito de São José e recebeu o nome de Angelina, em homenagem ao então presidente do Conselho de Ministros do Rio de Janeiro, Angelo Muniz da Silva Ferraz. Tornou-se município 70 anos depois, em 1961.
O potencial turístico de Angelina está em desenvolvimento graças ao Santuário Mariano ou Santuário Nossa Senhora de Angelina, formado pela Gruta Imaculada Conceição e 14 estações da Via Sacra. Vale conferir igualmente as belezas naturais da região.


Turismo Religioso: o principal local de peregrinação em Angelina é a Gruta Nossa Senhora da Imaculada Conceição e o Santuário Nossa Senhora de Angelina. Localizada no centro da cidade, a Gruta foi criada em 1899 pelo frei Zeno Wallbroehl, em cumprimento de uma promessa. Guarda uma imagem vinda da Alemanha, encomendada pelo frei, que morreu antes da sua chegada, em 1902. Em meio a quedas d’água e plantas nativas, o caminho até a gruta é um ziguezague, todo lajotado, de 740 metros, com passagens da Via Sacra produzidas em gesso por um artesão na Alemanha, em 1900. Outros locais bastante visitados em Angelina são a Colina da Louvação – anexa ao hotel, restaurante, colégio e convento das Irmãs Franciscanas de São José, um dos mais belos cartões postais do município –, a Gruta Nossa Senhora Aparecida – a oito quiômetros do centro, em Linha dos Chaves – e a Gruta Nossa Senhora da Graça – a 11 km da cidade, na localidade de Fortaleza, rica em belezas naturais, cascatas e vegetação.



Natureza: a cidade é pródiga em belezas naturais, como a Cachoeira São Sebastião, situada a 30 km da sede do município, no distrito de Barra Clara, e o Lago Ribeirão Garcia, palco de competições náuticas e área de surpreendente beleza, própria para camping e pescaria de caniço. O lago foi formado pela barragem da Usina Hidrelétrica Garcia, inaugurada em 1960 e responsável pelo fornecimento de energia para Florianópolis – a área alagada tem 500.000 m² e a capacidade de geração da usina é de 9.600 Kw.



Eventos: o evento mais popular da cidade é a Festa do Queijo e do Mel, realizada anualmente no mês de abril.



Como chegar






Localização: Grande Florianópolis, a 70 km da Capital do Estado.

Acesso: o caminho mais fácil até Angelina é feito pela BR-282, seguindo pela SC-407 por mais 13 km, a partir do trevo de Rancho Queimado. Apesar de rodar mais de 20 km, o trecho é todo pavimentado e a estrada é bem-conservada.

Municípios limítrofes: Major Gercino (ao Norte), Rancho Queimado (ao Sul), Antonio Carlos e São Pedro de Alcântara (a Leste) e Leoberto Leal (a Oeste).

Área: 625 km².

Altitude: 450 metros em relação ao nível do mar.

População: 5.776 habitantes (0,11% de Santa Catarina), sendo 2.984 homens e 2.792 mulheres (IBGE 2000).

Eleitores: 4.496 eleitores (0,12% de Santa Catarina) (TRE 2003).

CEP: 88460-000.

Código DDD: 48.

Clima: temperado quente.

Temperatura média anual: 21,5°C, com mínica de 16°C e máxima de 27°C.

Colonização: alemã.

Principal etnia: alemã.

Data de fundação: 10/11/1860.

Data festiva: 08 de dezembro (Festa do Santuário).

Gentílico: angelinense.

Principais atividades econômicas






A base da economia é a agricultura, com ênfase também para o turismo.





                                                 

Agelica Minas Gerais



                                          Nota: Se procura o porta-aviões Minas Gerais, consulte NAeL Minas Gerais (A-11).

Estado de Minas Gerais



(Bandeira) (Brasão)



Lema: Libertas Quæ Sera Tamen

(Liberdade ainda que tardia)

Hino: Hino de Minas Gerais

Gentílico: Mineiro, Geralista







Localização

- Região Sudeste

- Estados limítrofes SP (sudoeste), RJ (sudeste), ES (leste), BA (norte), MS (oeste), GO (oeste e noroeste) e DF

- Mesorregiões 12

- Microrregiões 66

- Municípios 853

Capital Belo Horizonte

Governo 2007 a 2010

- Governador(a) Antônio Anastasia [1] (PSDB)

- Vice-governador(a) nenhum (-)

- Deputados federais 53

- Deputados estaduais 77

- Deputados distritais {{{dep_distritais}}}

- Senadores Eduardo Azeredo (PSDB)

Eliseu Resende (DEM)

Wellington Salgado de Oliveira (PMDB)

Área

- Total 586.528,293 km² (4º)

População 2009

- Estimativa 20.033.665 hab. (2º)

- Densidade 32,73 hab./km² (14º)

Economia 2005

- PIB R$241.293 bilhões[2] (3º)

- PIB per capita R$12.519,00[2] (10º)

Indicadores 2000

- IDH 0,800 (2005)[3] (10º) – elevado

- Esper. de vida 73,8 anos (4º)

- Mort. infantil 20,4/mil nasc. (11º)

- Analfabetismo 8,9% (12º)

Fuso horário UTC-3

Clima Tropical e Tropical de altitude Aw, Cwa, Cwb

Sigla BR-MG

Site governamental http://www.mg.gov.br/







Minas Gerais é uma das 27 unidades federativas do Brasil, sendo a quarta maior em extensão territorial, que é de 586.528 km², equivalente à da França. Localiza-se no Sudeste e limita-se a sul e sudoeste com São Paulo, a oeste com o Mato Grosso do Sul e a noroeste com Goiás, incluindo uma pequena divisa com o Distrito Federal, a leste com o Espírito Santo, a sudeste com o Rio de Janeiro e a norte e nordeste com a Bahia. O atual governador do estado é Antônio Anastasia. Linguisticamente, o nome Minas Gerais dentro de frases não é acompanhado de artigo definido, como acontece com os estados de Mato Grosso, de Goiás e de Mato Grosso do Sul.



O estado é o segundo mais populoso do Brasil, com pouco mais de 20 milhões de habitantes.[4] Sua capital é a cidade de Belo Horizonte, que reúne em sua região metropolitana cerca de cinco milhões de habitantes, sendo, assim, a 3ª maior aglomeração populacional do país.



Minas Gerais possui o terceiro maior Produto Interno Bruto do Brasil, superado apenas pelos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, embora em um importante indicador de capacidade econômica, a arrecadação de ICMS, Minas tenha superado o Rio de Janeiro na classificação nacional.



Também é muito importante sob o aspecto histórico: cidades erguidas durante o ciclo do ouro no século XVIII consolidaram a colonização do interior do país e estão espalhadas por todo o estado. Alguns eventos marcantes da história brasileira, como a Inconfidência Mineira, a Revolução de 1930, o Golpe Militar de 1964 e a campanha pela abertura política em meados da década de 1980 mais conhecida como Diretas Já, foram arquitetados em Minas Gerais.



                 

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Retratam bem O Sr Pernambucano ( Lampião)

O encontro entre a banda Mundo Livre SA e os Nômades não podia ser diferente, uma verdadeira brincadeira de ferro-velho. Se as crianças se divertem no parquinho, esses adultos inquietos vão para um parque de entulhos industriais, e assim são felizes.




O novo álbum da banda pernambucana fala de máquinas orgânicas, fusão do eletrônico com o homem cotidiano, estruturas de ferro que pulsão com sangue.



A tônica da resignificação dos espaços e a criação a partir da fusão de elementos aparentemente incompatíveis transformou os músicos do mundo livre em “homens usina”. Esta produção fotográfica, que traz referências gondryanas e dos antigos heróis japoneses, fala da necessidade de estabelecer uma nova conexão com a realidade, dar lugar ao homem virtual, mas com a sabedoria de que sem a matéria prima corpo não existe nem máquina, nem rima. Viver entre o aço/concreto/elétrico e o orgânico é o destino, cada vez mais marcado do homem contemporâneo, que tenta colocar este dilema em equilíbrio. Os ritmos ancentrais, as nossas culturas sonoras de raiz, podem encontrar os beats eletro-tecno desde que essa fusão seja realizada com respeito. É esse a esse respeito que os músicos da Mundo Livre SA se dedicam, na singularidade da diferença, seja máquina, seja homem.




Ao som do frevo e do maracatu, os foliões se divertem nas ruas de Olinda. Destaque para os famosos bonecos gigantes e os blocos carnavalescos. Quem for visitar Olinda não pode deixar de provar as famosas tapiocas, culinária típica da região.
Não foi por acaso que a cidade de Olinda, no estado do Pernambuco, fundada em 1535 recebeu este nome de seus colonizadores. O município é um dos mais antigos e mais bem preservados do Brasil, fato que a levou a ser declarada Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO em 1982.


 A Magnifica Olinda (Pernambuco)




O Jeito Baiano de Ser

 Não existe um representante melhor que este! Ah  o  Velho  Dorival Caymmi
JEITO BAIANO DE SER

Mapa da Bahia







Ao completar 89 anos, Dorival Caymmi lembra momentos de uma história que se

confunde com a própria história da música brasileira.







Por Gal Rocha





A fama de preguiçoso ele atribui à música João Valentão, que demorou quase

uma década para ser concluída. Aos 89 anos, Dorival Caymmi vive no Rio de

Janeiro, numa rua arborizada de Copacabana, a três quadras de distância do

seu cantado e amado mar. Muito gentil e solícito, ele recebeu CartaCapital

para esta entrevista em seu gabinete e se desculpou: era dia de arrumação da

sala. Vaidoso, quer saber se a roupa está boa para a foto e aceita com

disposição todas as sugestões da fotógrafa. Caymmi mostra fotos da família,

se diverte com o nome engraçado de uma tia e mostra a coleção de bengalas.

“A primeira foi dada pelo Carybé.” No final, acompanha as visitas até a

porta e agradece por ter sido “escolhido” para a entrevista.









CartaCapital: Seu bisavô veio da Itália para trabalhar no Elevador Lacerda,

um dos símbolos de Salvador. Duas gerações depois, o senhor, com seu jeito

de ser, de compor e de cantar, imprimiu uma imagem da Bahia.

Dorival Caymmi: É verdade... Meu bisavô, Enrico Balbino Caymmi, veio

trabalhar no reparo do Elevador Lacerda, acrescentar alguma novidade, botar

aquele sabor europeu. É verdade... A gente não tem como explicar. É

espontâneo, acontece e a gente até descobre coincidências depois. “Olha como

isto parece com aquilo”, não tem intenção... Bela coincidência, isso é que é

verdade. A expressão é essa.







“O tema mulher é lindo em canto.

Sem mulher o mundo não anda. Aliás, o mundo não. O sistema solar não

funciona”







CC: O senhor é tido como um grande contador de histórias. Conte-nos como foi

o início no Rio, na pensão da dona Julieta.

DC: Eu desejei conhecer e, possivelmente, começar minha vida no Rio de

Janeiro. Foi com a ajuda de parentes de minha mãe, principalmente. Por

exemplo, o José Brito Pitanga, jovem ainda e que era funcionário de uma

clínica na rua São José, a Clínica Doutor Gouveia. Fui recomendado a ele,

que me botou na pensão de dona Julieta, no meio de estudantes e comerciários

e fiquei por ali, gostando muito. Cheguei aqui dia 4 de abril de 1938. Já

gostava e já tinha tido emprego na imprensa, tinha 24 anos de idade por

completar naquele mês mesmo. Instruído por José Pitanga, amparado por ele na

pensão e tal, com bom comportamento, boa educação que recebi, fui fazendo

bicos na imprensa. Lá disseram: “Eu soube que você é de música, aqui é a

terra de rádio e futebol”, gente brincando, fazendo piada. E assim eu fui

para a revista O Cruzeiro, apresentado a um funcionário de categoria, que me

apresentou ao diretor da Rádio Tupi, da organização do doutor Assis

Chateaubriand. No dia 24 de junho de 1938, ano em que cheguei, eu estreei,

sem contrato, na Rádio Tupi do Rio de Janeiro, cantando umas duas canções e

fiquei sob a guarda da Tupi. Lá diziam: “Não cante para ninguém, não assine

compromisso, a nossa situação não é boa, mas vai melhorar, então você será

contratado”. E aí continuei essa carreira de cantor, de compositor-cantor, e

estou até hoje... Agora eu não canto tanto (risos).





CC: O reconhecimento chegou com O Que É Que a Baiana Tem, cantada por Carmen

Miranda...

DC: A canção foi feita naquele mesmo ano de 1938, eu estava na pensão quando

me lembrei de uns versinhos que tinha feito na Bahia... “O que é que a

baiana tem/o que é que a baiana tem?” e foi saindo a canção. Lembro que, um

pedaço que gostei, fiz na escada da pensão da dona Julieta. Então eu fui

compondo e em poucos dias tinha feito a música. Como já estava cantando no

rádio, a Tupi abriu mão para eu ir para a transmissora. Cantava dois dias

por semana e mais aos domingos, no programa do Dragão da Rua Larga, que era

muito famoso, na rua Marechal Floriano. Muita gente ficou curiosa: “Que

beleza, que é isso?” Aí passei a ficar notado e apresentaram meu nome no

jornal com destaque: “É um cantor novo que faz umas coisas da Bahia, umas

coisas muito gostosas”. Por causa dos balangandãs, por causa da palavra, não

sabe? Muito curiosa e tal... Então uma empresa de cinema me perguntou se

queria ceder a música, que a Carmen Miranda iria cantar, por um cachê de cem

mil-réis. Fiquei de ensinar a música a ela.





CC: O senhor ensinou a Carmen a fazer os trejeitos também...

DC: Os trejeitos ela já tinha vocação, agora, para descrever o traje, fiz

para ela o ponto, como se diz em teatro. O ponto é aquele que indica. Fui

descrevendo o torso, o turbante que as baianas botam na cabeça, fui

descrevendo com os gestos do lado de trás da câmera, para ela cantar a

música com os gestos combinando. Ah! Ficou formidável, fiquei encantado.





CC: O que se deu daí por diante?

DC: Aconteceu uma surpresa muito importante: isso fez com que uma outra

faixa da sociedade me visse. A senhora do presidente Vargas, a Darci Vargas,

fazia um espetáculo de caridade anualmente, e o tema que escolheram foi

exatamente aquele tema da minha música “quem não tem balangandãs não vai no

Bonfim”, então ficou sendo Juju e Balangandãs o título que deram à peça.

Juju é bijouteria francesa e balangandãs, baiana, afro-brasileira. E assim,

menina, foi um sucesso que até eu fiquei surpreendido. Fiquei morando na

pensão, mas o diretor da Rádio Tupi, que já era meu amigo, me convidou para

morar no apartamento dele na rua do Passeio, também no centro da cidade e eu

aceitei porque ele tinha perdido o parceiro no pagamento do aluguel. Eu

gostava dele e ele de mim, éramos amigos.





CC: Foi então que conheceu dona Stella?

DC: Conheci-a num domingo, num programa de calouros da Rádio Nacional. Achei

ela muito bonitinha, tinha por volta de 17 ou 18 anos e cantou uma música

linda. Eu pensei que ela fosse cantar uma música do cinema americano ou uma

música clássica, pelo tipo físico. Não, ela cantou uma música do Noel Rosa

muito em moda e muito querida, O Último Desejo. Fabulosa! Cantou de maneira

encantadora, fiquei apaixonado. Isto em 1939.





CC: Doralice, Marina, Adalgisa, Dora, Juliana, Anália... O senhor era mesmo

“terrível com esse negócio de mulher”, como já disse dona Stella?

DC: Ah, sim (risos). Eu gosto muito do assunto. O assunto em geral, da

canção popular e da clássica, ou dramático, ou cômico, ou o que seja. Sempre

a mulher é um ponto vital e central. Eu gosto muito.





CC: Antonio Risério fala sobre as mulheres de suas músicas, em seu livro

Caymmi: Uma Utopia de Lugar. “Curtidas, caladas, passivas”, ao mesmo tempo

que “conhecem o poder que têm”. O que poderia ser acrescentado ou tudo já

foi dito?

DC: Eu acrescentaria o seguinte: o tema mulher é lindo em canto pessoal. Já

vem com ela, a beleza, racional, natural, é o destaque, o som da voz,

falando, cantando... o encanto pessoal, a maneira de falar e o modo de ser.

Eu acho que a mulher é uma figura que reúne muitas qualidades importantes e

boas, bonitas, gostosas. Sempre achei que mulher é um ponto vital da

humanidade. Sem a mulher o mundo não anda. Aliás, o mundo não. O sistema

solar não funciona.





CC: Oração de Mãe Menininha é vista como uma música que deu ao candomblé a

real dimensão da cultura afro-baiana, mas houve uma época em que, mesmo o

senhor já sendo quem é, algumas pessoas interpretaram como uma forma de

promoção pessoal. O senhor guarda alguma mágoa desse episódio?

DC: Não, não, em absoluto. Eu sei que muita gente disse até: “Olha, esse

cara fez uma canção falando de Mãe Menininha, tá cheio do dinheiro e não deu

um tostão a ela”. De fato, Mãe Menininha não estava precisando de dinheiro,

era uma senhora de comportamento muito bom. Conheci ela na Bahia, era uma

pessoa religiosa, respeitável e professava sua religião com dignidade, tinha

família, filhos. E, fora da religião, era uma pessoa muito agradável, uma

boa conversa, uma companhia muito agradável. De modo que eu fiz amizade com

ela, indo à Bahia com constância, porque eu tinha parentes lá, passava

férias, levava a família e ao mesmo tempo trabalhava. Pois bem, fiz amizade

com Mãe Menininha como Jorge Amado fez, como Carybé fez e outras pessoas que

nem eram residentes na Bahia e foram chegando, querendo conhecê-la já antes

de mim. Era um nome conhecido na religião e no folclore baiano. Aproveitei a

amizade e me inspirei nela e fiz uma oração, em termos de oração, em sentido

de oração, como diria Noel Rosa. Fiz uma canção para ela. Não tinha

interesse financeiro, nem pensava em sucesso popular. Quando saiu no disco é

que começou a ser popular e começaram aquelas más-línguas, tudo que acontece

na vida, né? Mas nada disso me toca, nem me fere, não tenho mágoa dessas

coisas, nem reparo nisso, nem olho.







Balangandãs.

O músico ensinou gestos a Carmen







CC: Como o senhor chegou ao candomblé?

DC: Por curiosidade, pela família. Meu pai, por exemplo, freqüentava por

curiosidade, por amizades feitas com pessoas que eram realmente radicadas no

candomblé, então era convidado a assistir a festas, cerimônias religiosas.

Ele tinha muitos amigos, inclusive colegas de repartição. Todo sujeito de

bom gosto tinha curiosidade, muita gente estrangeira vinha para conhecer o

candomblé. A influência negra na América do Sul, na América do Norte. É o

caso de Pierre Verger. Muita gente estudou a religião negra na Bahia, vinha

passar temporadas. Americanos, ingleses, franceses, italianos e tal. Roger

Bastide, por exemplo, francês. Carybé era argentino. Foi acabar gostando da

Bahia.





CC: O senhor é Obá de Xangô. Que características desse orixá o senhor

reconhece como sendo suas?

DC: Eu recebi o título completo Obá Onicoií. A minha semelhança foi vista

primeiro pela Mãe Senhora (do Axé Opô Ofonjá). Qualidades como seriedade,

princípios morais, energia, amor à cultura, justiça, características de

Xangô. Tem até uma oração católica que diz: “Senhor, no início desse dia

venho pedir saúde, força, paz e sabedoria”. A sabedoria é um dos princípios

de Xangô. Eu citei para lembrar da palavra que precisava achar, sabedoria.





CC: Como surgiu a amizade entre o senhor, Jorge Amado e Carybé?

DC: Carybé foi uma amizade que começou no Rio. Mal cheguei, a Carmen

Miranda, que já tinha se tornado minha amiga, me deu entrada para o próximo

baile de carnaval, baile do Flamengo. Estava dançando e me apresentaram a

ele. Já conhecia alguma coisa dele publicada. Carnaval de 1939. Jorge Amado,

no mesmo ano. Fomos apresentados na avenida Rio Branco, perto do Teatro

Municipal. Estava caminhando na rua e um sujeito disse: “Um patrício seu, o

escritor Jorge Amado”. Ficamos amigos por muito tempo, aqui no Rio e na

Bahia. Eu passei uma temporada boa na Bahia... Tinha casa na Bahia e no Rio

de Janeiro e ele a mesma coisa.





CC: O senhor vai a Salvador com freqüência?

DC: Sempre que posso. Agora, há alguns anos que não vou lá. Fui operado,

estive doente, aquela coisa de mudar de estilo de vida. Fui em 1995. Em

1994, fiz 80 anos e em 1995 a Odebrecht organizou uma festa porreta, no

Othon Hotel, 60 anos da Odebrecht. Foi comemorado em dois dias e eu cantei

no show, levei meu pessoal todo. Todo mundo que eu convidasse e a Odebrecht

aceitasse. Avião cheio. Trabalhei dois dias, o resto, fiquei passeando.

Percorri o Bonfim, matei as saudades... Eu gosto da Bahia... Eu amo mesmo.

Eu vejo diferença, transformo tudo na cabeça na hora. Certa vez, houve uma

lambança lá por causa de uma árvore com mais de cem anos que iam cortar no

Campo Grande, para passar aquele túnel. Aí foi um bode danado. Celestino,

Carybé, todo mundo disse: “Não corta!” Fizeram o negócio sem tirar a árvore.





CC: Hoje em dia, o senhor fica mais no Rio ou em Rio das Ostras?

DC: Fico mais no Rio. Porque sou viciado em Rio de Janeiro, desde 1938.

Agora, tenho meu xodó pela Bahia. Gosto de Minas, da cordialidade rural. É

muito mais repousante do que a Bahia, do que o Rio, do que tudo. Lá é que é

lugar de repouso. Você respira outro ar, outra vida. Minas coopera com sua

saúde. E Rio das Ostras é uma continuação de Copacabana. Nos anos 70, quando

fomos para lá, podia-se pescar à vontade. Agora, a população aumentou de tal

jeito... A graça de quando chegamos lá era a pesca. Minha mulher é

apaixonada por pesca. Hoje, você nem vê a praia de tanto guarda-sol. Rio das

Ostras perdeu um pouco do encanto.





CC: O senhor disse que não era um pintor de domingos, mas que também não é

100% pintor. Que lugar a pintura ocupa em sua vida?

DC: Agora estou com a vista mais deficiente, mas pintei muito. A pintura

ocupou uma parte da minha vida quase que organizada, porque eu tinha um

recanto para o material de pintura e, naqueles dias em que não trabalhava,

estava no cavalete pintando. Dias em que não tinha trabalho fora, não

precisava viajar ou estar ensaiando nas estações de televisão e rádio, eu

estava pintando. Eu tinha vocação para retratos e paisagens. Fiz muito, dei,

vendi alguns em exposições, participei de exposições pelo Brasil afora, em

São Paulo, em Minas, em vários lugares.





CC: Como aconteceu sua iniciação musical?

DC: Minha iniciação musical foi em criança, ouvindo parentes que tocavam

piano, principalmente. E meu pai, que tocava bandolim, piano e violão

amador. Então eu estava acostumado a ouvir, em casa, mamãe cantando, gostava

de cantar, papai tocando bandolim, tocando violão, tocando umas polcazinhas

de piano. Nós não tínhamos piano em casa, mas as minhas tias do lado Caymmi

sempre tinham. Era chique ter piano em casa.





CC: Que tipo de música ouvia?

DC: A música do tempo de papai. Era aquele tipo chamado tango brasileiro,

aquele tipo de chorinho. Ele tocava no piano, dava uns nomes engraçados e

compunha aquilo e tal... Bom, depois ele tocava bandolim. Nunca soube solar,

nem toquei piano. Não sei tocar bandolim, cavaquinho, nada. Não sei. Eu só

sabia tocar violão e aprendi no violão dele. Quando eu dava os acordes que

me ocorriam, ele dizia: “Puxa, aí tá errado. Esse dedo não é aí não, esse

dedo está desafinado”. É que eu já tinha tendência a alterar. Alterar

sétimas e nonas, enfim. Coisa de música... Não sei se por instinto, minha

música toda modernazinha. Ele era do estilo da terra, antigo.





CC: Aos 89 anos de vida e quase 70 compondo...

DC: (Risos) 89 anos, feitos no dia 30 de abril. A composição começou a

surgir na infância, a idéia de fazer, de aprender, de gostar de música,

ouvindo no fonógrafo, depois na vitrola, depois fui fazendo umas coisinhas

até que eu descobri que aquilo era compor música. Não tinha indústria de

música na Bahia, principalmente na minha infância.





CC: Inspiração é algo que vem espontaneamente ou vem com muito trabalho e

dedicação?

DC: Espontaneamente. Eu nunca consegui fazer nada que não fosse assim. João

Valentão, que me deu fama de preguiçoso, foram nove anos para completar.

Porque eu fui fazendo inspirado num pescador de Itapuã, veraneio, né? De

apelido Carapeba, que é o nome de um peixe. Quando cheguei num pedaço, eu

parei porque tive dúvida, mas deixei de lado, não foi porque eu fiquei

lutando para acertar, não, deixei de lado. Um belo dia, resolvi, completei

por acaso, no ônibus. Aí disseram: Caymmi demorou nove anos para fazer uma

música, já teve quem botasse 50. Para fazer piada... (Risos.)





CC: Passar anos “burilando melodias e versos” pode ser uma característica

“baiana”, como têm o senhor e João Gilberto, por exemplo?

DC: Olha, tem muito de coisa baiana pelo comportamento e pela forma de ser

da cidade, que é diferente de outras. Pelo menos na minha vida lá, até os

anos 40, eu indo com constância, eu diria que a Bahia era muito diferente

das outras capitais que eu conheci, dos outros lugares. De características

próprias, praias próprias, comidas próprias. Isso me influenciou muito. Me

deu um canto especial. É uma beleza... Acho que isso influi na vida do

baiano. Nas artes, então, influi muito.





CC: O que o senhor tem ouvido ultimamente? O que tem achado da produção

musical brasileira?

DC: Eu não estou achando a música brasileira parecida com o gênero que eu

trabalhei. Mudou muito, as gerações mudam, vem uma geração jovem, vêm formas

de trabalho diferentes, instrumentos diferentes, tudo diferente e vem a

novidade da comunicação. Entrou a televisão, melhorou o rádio, que agora já

está mais fraco, o teatro tomou outro aspecto... Tudo mudou, é natural da

vida. Estou habituado com a música da minha época... Mário Lago, Noel Rosa,

Pixinguinha, Ary Barroso... Olha, era tanta gente boa pelo Brasil todo,

vinham todos para o Rio, o centro comercial e industrial da música.







CC: E a música baiana, em particular?

DC: A música baiana que eu adorava era a música de rua, que eu conheci

pequeno, aquelas cantigas de festa na rua, a festa da Conceição da Praia, a

festa do Bonfim, a festa do Rio Vermelho, essas coisas assim sempre me

interessaram porque eram diretas do povo, comunicando, produzindo,

inventando, compondo a esmo e bonito. Muita coisa que ficou, que continua,

que é de uma época bem longínqua, é música do povo, essa é a verdade. Agora

não tem muita influência não, tem palavras muito parecidas, assuntos

parecidos, para mim é tudo igual. É boa para a exibição de palco, de

televisão, não é?





CC: Caetano Veloso afirmou que toda a bossa nova foi influenciada pelo

senhor, “pelos acordes dissonantes que descobrira”, mas que o senhor não

teve mestres. Concorda?

DC: Todos eles dizem que tem minha influência no princípio da bossa nova,

reconheço alguma coisa, sem vaidade. E, concordo, não tive mestres. Eu tive

um certo cuidado em não copiar o que os outros já fizeram, isso ajuda muito.

Ser original, né?





CC: Sua filha, Nana, está lançando um disco com músicas suas, o que achou da

homenagem?

DC: Tem um disco na praça muito bonito e músicas que participam de novelas

de televisão. É uma homenagem discreta, mas bonita, porque vem do meu

sangue, somos amigos e é bonita essa união familiar.





CC: E o mar?

DC: Ah! Eu gosto do mar! No tempo de mais moço, amigo de Carlinhos Guinle,

que tinha um barco possante, gostoso, a gente só usava o motor para sair do

Iate Clube. Saía, abre vela... Quando cheguei na Bahia, encontrei um

parceiro que pegou um saveiro da Costa de Camamu e transformou numa escuna

formidável e bonita! Com tanta vela que eu nunca vi! Eu até me inscrevi numa

volta ao mundo. Pra quê? Minha mulher disse: “O quê?! Vai dar volta ao mundo

com o Lelis?” Aí fiquei arrepiado. Isso vai dar coisa... Então não fui.





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